O final de A Substância ressalta os temas do filme e destaca o perigoso padrão duplo que existe em Hollywood.

“ATENÇÃO: este artigo contém spoilers importantes sobre o filme “A Substância ”

O desfecho de A Substância oferece uma conclusão trágica para uma comédia de terror corporal cheia de elementos selvagens, destacando as reflexões do filme sobre autoestima e autodestruição no contexto da indústria do entretenimento. A trama gira em torno da misteriosa “Substância”, um soro médico capaz de criar uma versão mais jovem de quem o utiliza. Este processo permite que a pessoa viva uma semana em um corpo “perfeito” para cada semana em sua forma original, embora seja necessário seguir regras rígidas para manter o equilíbrio. Os protagonistas de A Substância são duas facetas da mesma pessoa: a envelhecida estrela Elisabeth e sua versão rejuvenescida, que se autodenomina Sue.

| RELACIONADO:

Os Mortos Não Morrem: final explicado

O longa é uma comédia sombria que aborda a superficialidade da indústria do entretenimento, mas também se revela uma trágica história de terror sobre os limites que Elisabeth e Sue estão dispostas a ultrapassar para alcançar suas ambições, mesmo ao custo de suas próprias vidas. Ao se enxergarem constantemente como rivais pelo tempo compartilhado, essas duas versões de Elisabeth acabam por causar sua própria ruína. Os temas explorados no arco de Demi Moore em A Substância aprofundam a comédia de terror corporal, adicionando um nível pessoal de tragédia e seriedade à narrativa. O final de A Substância realça de forma poderosa o núcleo temático da obra.

A transformação final de Elisabeth e Sue no final de A Substância explicada

O Monstro No Final Deste Filme

Uma cena de The Substance. Em um banheiro austero, de azulejos brancos, um corpo nu (Elisabeth) está de costas para nós, usando uma toalha como travesseiro. Atrás dela, e também de costas para nós, está uma figura envolta em um opulento vestido azul-marinho enfeitado com uma criatura dourada, parecida com uma cobra.

A transformação final em A Substância é ao mesmo tempo trágica e aterrorizante, encapsulando os temas centrais do filme. Após assassinar Elisabeth, Sue inicialmente acredita ter conquistado a oportunidade de viver livre do peso de sua versão mais velha. No entanto, seu corpo começa a se deteriorar rapidamente na ausência do soro. Desesperada, ela tenta reutilizar o soro Activator, projetado para uso único, mas o resultado é uma transformação grotesca que a funde em um híbrido deformado de Elisabeth e Sue. De forma marcante, Elisabeth é “ressuscitada” no processo, mas apenas como um rosto preso no corpo de Sue.

Vendo Sue como um monstro, o público reage com horror, obrigando-a a fugir do show de Ano Novo. Contudo, ela consegue ir apenas até certo ponto antes de seu corpo entrar em colapso e se autodestruir. Esse desfecho melancólico deixa Sue essencialmente morta e Elisabeth reduzida a um rosto sem autonomia e com pouco tempo restante. A transformação final simboliza o lado sombrio e amargo das escolhas feitas por ambas ao longo do filme, com suas formas físicas refletindo as decisões monstruosas que tomaram. Ainda assim, A Substância não glorifica essa transformação; pelo contrário, retrata Elisabeth e Sue como figuras profundamente trágicas e dignas de compaixão.

Por que Sue mata Elisabeth e o que isso significa

O destino final de Sue não vai bem

Um elemento central de A Substância é a insistência da misteriosa empresa em tentar convencer Elisabeth de que Sue é apenas uma extensão de si mesma. Entretanto, à medida que a história avança, Elisabeth e Sue passam a se enxergar como inimigas, lutando pelo controle de uma única vida. Essa rivalidade se intensifica até que Sue decide assumir o controle definitivo, ignorando os repetidos avisos sobre as consequências. Isso culmina em Elisabeth sendo reduzida a uma versão ainda mais frágil e abatida de si mesma. Quando Elisabeth finalmente recupera o controle, ela tenta assassinar Sue, mas seu próprio ego e o horror diante de suas ações fazem com que poupe sua versão mais jovem.

Contudo, ao despertar, Sue não demonstra a mesma compaixão e, em um ato decisivo, acaba matando Elisabeth. Esse momento destaca simbolicamente o quanto Elisabeth perdeu o domínio sobre seus desejos e sua autoestima: seu ego rejuvenescido destruiu por completo seu verdadeiro eu. No entanto, isso também sela o destino de Sue. Sem Elisabeth para administrar o soro de forma segura, Sue rapidamente entra em colapso, desintegrando-se. Essa escolha reflete o tema central do filme: ao destruir sua essência verdadeira e assumir o controle absoluto, Sue acaba se consumindo, transformando-se no monstro final de A Substância.

Quem é o fornecedor da A Substância?

Uma das maiores questões do filme nunca é respondida

A Substância Demi Moore 1

Um dos mistérios centrais de A Substância é a identidade da organização responsável pela criação do soro. Elisabeth toma conhecimento do programa apenas através de uma enfermeira não identificada, que ela conhece após um acidente de carro e que acredita que Elisabeth seria uma candidata ideal para o processo. O inventor do soro em A Substância permanece um enigma durante todo o filme estrelado por Demi Moore, com a organização se comunicando exclusivamente por ligações ou mensagens invisíveis. Elisabeth obtém o soro em um ponto de coleta no centro de Los Angeles, sem nunca interagir diretamente com ninguém e sem descobrir a verdadeira origem do produto.

Personagens principais de A Substância

Elenco

  • Elisabeth: Demi Moore
  • Sue: Margaret Qualley
  • Harvey: Dennis Quaid

O filme, de forma notável, não apresenta a organização como o verdadeiro vilão. Eles são claros em seus conselhos e avaliações sobre os crescentes conflitos entre Elisabeth e Sue, mas não tentam influenciá-la a continuar ou abandonar o uso do soro. Quando Elisabeth considera encerrar o processo, a organização explica as regras e deixa a decisão inteiramente em suas mãos. O destino de Elisabeth e Sue é determinado exclusivamente por suas próprias escolhas. Essa abordagem reforça os temas do filme, mostrando que a autodestruição de ambas é consequência direta de suas decisões pessoais.

O que acontece com Harvey e Pump It Up?

Harvey representa os aspectos predatórios da indústria do entretenimento

A Substância Dennis Quaid

Uma das maiores tragédias de A Substância é a ausência de consequências explícitas para Harvey e os outros produtores que lucram com o sofrimento de Elisabeth e Sue. Harvey, retratado como um produtor misógino e manipulador por trás do programa de exercícios de Elisabeth, “Pump It Up”, constantemente explora suas inseguranças. Ele a pressiona emocionalmente, levando-a a recorrer ao soro para atender às demandas de perfeição impostas pela indústria. Sua abordagem cruel e calculada não apenas humilha Elisabeth, mas também lhe rende elogios e sucesso, graças ao desempenho de Sue. Embora o show de Ano Novo termine em desastre, o filme não sugere que Harvey enfrentará qualquer tipo de punição por sua conduta.

Os temas de A Substância enfatizam como a indústria do entretenimento desumaniza os indivíduos, tratando-os como peças substituíveis em um jogo controlado por poucos. Produtores como Harvey, símbolos de poder predatório, têm o privilégio de ditar o curso das carreiras e vidas de outras pessoas de acordo com seus caprichos. Não há justiça aparente para Harvey, cuja cena final marcante o mostra entre outros homens ricos e influentes, objetificando jovens artistas e dizendo a Sue para sorrir. O filme sugere que Harvey simplesmente encontrará outra estrela para comandar “Pump It Up”, permanecendo ileso. Essa conclusão serve como um lembrete sombrio de que figuras predatórias como Harvey ainda existem e prosperam em Hollywood.

O Verdadeiro Significado De A Substância

Elisabeth se torna sua pior inimiga

Demi Moore borra o batom com raiva no espelho em The Substance

A verdadeira mensagem de A Substância é profundamente trágica, mostrando como alguém pode literalmente se tornar seu pior inimigo. Elisabeth, apesar de décadas de sucesso e de seu status de celebridade, é subestimada e marginalizada por causa de sua idade. Enquanto isso, Harvey – cuja idade é comparável à dela – continua no auge de sua carreira, enquanto a idade de Elisabeth a transforma em uma “responsabilidade” para a indústria. No entanto, nem Harvey nem o soro são os responsáveis pela queda de Elisabeth. Sua ruína vem de sua própria dúvida, senso de inadequação e problemas de autoestima, que a levam a ignorar sua própria beleza e potencial.

A cena em que Elisabeth tenta se arrumar para um encontro, mas não consegue seguir em frente, simboliza essa luta interna. É uma oportunidade de autoaceitação e paz interior que ela sacrifica em busca da aprovação dos outros. O sucesso de Sue intensifica a frustração de Elisabeth, alimentando ainda mais as ambições de sua versão mais jovem. Essa divisão mental crescente transforma dois aspectos da mesma pessoa em inimigas implacáveis. Tanto Elisabeth quanto Sue se tornam suas próprias piores adversárias, culminando em um final trágico para ambas.

A Substância é uma história poderosa que utiliza o horror corporal para explorar como as expectativas sociais podem deformar uma pessoa até torná-la irreconhecível, tanto para os outros quanto para si mesma.

A Substância: está disponível para transmissão no Apple TV

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *