Com esse objetivo, A Garota da Agulha termina em um momento de otimismo para Karoline e Overbye.

Aviso: Este artigo contém spoilers sobre a A Garota da Agulha.

Na Dinamarca, grande parte da população já ouviu falar sobre a história real e macabra que serve como base para o novo filme A Garota da Agulha.

Entre 1915 e 1920, Dagmar Overbye, uma mulher de Copenhague, oferecia-se para cuidar de bebês indesejados em troca de dinheiro, prometendo encontrar bons lares para eles. No entanto, em vez disso, ela os assassinava. Overbye foi finalmente presa e condenada à morte em 1921.

A roteirista Line Langebek e o diretor Magnus von Horn não quiseram apenas retratar a trajetória de uma serial killer em seu filme, que agora está disponível nos EUA pela MUBI e foi escolhido como a submissão da Dinamarca ao Oscar na categoria de Melhor Filme Internacional.

“O que ela fez reflete muito sobre a sociedade da época”, diz von Horn. “Ela não sequestrava bebês para matá-los. As próprias mães os entregavam a ela. Queríamos explorar esse contexto.”

Por isso, Overbye, interpretada por Trine Dyrholm, só surge na metade do filme, que impressiona com sua fotografia em preto e branco.

A narrativa foca principalmente em Karoline (Vic Carmen Sonne), uma operária no período pós-Primeira Guerra Mundial que engravida de seu chefe rico e é abandonada após a desaprovação de sua mãe. Tentando realizar um aborto sozinha em uma casa de banhos de Copenhague, Karoline é encontrada por Overbye, que lhe oferece uma alternativa: por um pagamento, ela promete encontrar uma família adotiva para a criança.

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Após dar à luz, Karoline entrega seu bebê para Overbye, acreditando que ele terá uma vida melhor com uma família rica. No entanto, ao invés de seguir seu caminho, ela se sente atraída por essa mulher enigmática, que aparenta estar ajudando outras mães desesperadas. Assim, Karoline acaba se tornando cúmplice de Overbye, desenvolvendo uma relação de codependência distorcida.

Na vida real, Overbye foi suspeita de assassinar até 26 crianças, sendo condenada por 8 mortes. Seu principal motivo era financeiro: ela lucrava ao enganar mulheres vulneráveis, que confiavam nela para garantir um futuro seguro para seus filhos.

Um conto de fadas baseado em fatos

Karoline é inspirada na mulher que, na vida real, levou a polícia até Dagmar Overbye ao exigir seu bebê de volta. No entanto, Magnus von Horn e Line Langebek usaram licença criativa para expandir sua história. No filme, Karoline passa mais tempo com Overbye antes de ser descoberta, sendo gradualmente envolvida por sua influência. Quando retorna à casa de Dagmar, ela é atraída para sua órbita e acaba se tornando sua ama de leite. Von Horn compara essa dinâmica a um "conto de fadas sombrio".

“Eventualmente, ela começa a se perguntar: estou me tornando Dagmar ou não?”, diz von Horn. “Como uma pessoa comum quase se transforma em uma doppelgänger ou em uma aprendiz pronta para assumir seu lugar?”

Os cineastas realizaram uma pesquisa extensa, incluindo a recuperação da transcrição de 122 páginas do julgamento de Overbye nos arquivos nacionais da Dinamarca. Eles também analisaram imagens do fogão onde a polícia encontrou ossos dos bebês assassinados, um detalhe macabro que influenciou o design de produção do filme.

No entanto, von Horn e Langebek estavam igualmente interessados no contexto social que possibilitou a existência de alguém como Dagmar. Na Copenhague do pós-Primeira Guerra Mundial, a superlotação tornava fácil o desaparecimento de pessoas. Para aprofundar essa perspectiva, consultaram a historiadora Pia Fris Laneth.

“A forma como ela descartava os corpos e se livrava dos bebês mostra o descaso da sociedade. Ninguém se importava com o que flutuava no rio ou era jogado no lixo”, explica von Horn.

Após a guerra, a Dinamarca introduziu um sistema de identificação numerada para seus cidadãos, dificultando que pessoas simplesmente desaparecessem, um detalhe que, segundo Langebek, “se tornou parte do tecido da história”.

Perturbadoramente humano

A versão de Dagmar Overbye retratada no filme difere significativamente da figura real. No longa, Trine Dyrholm, que está na casa dos 50 anos, interpreta Overbye como uma mulher mais velha e metódica, enquanto, na realidade, ela tinha cerca de 30 anos na época dos crimes e era uma mentirosa compulsiva menos organizada. No entanto, o filme mantém um aspecto verídico de sua vida: Overbye sofreu vários abortos espontâneos antes de finalmente ter uma filha. Em A Garota da Agulha, essa criança é simbolizada por Erena (Avo Knox Martin), uma boneca loira para quem Karoline se torna uma mãe substituta.

O roteiro estabelece paralelos entre Karoline, uma jovem empobrecida, e Overbye, que luta para sobreviver, mesmo que isso signifique cometer atos impensáveis. Essa abordagem torna Dagmar uma figura ainda mais perturbadoramente humana.

“Poderíamos contar essa história mostrando Dagmar apenas como um monstro, mas essa é a narrativa tradicional de serial killers que todos já conhecem”, diz Line Langebek.

Mesmo assim, começar e terminar o filme com Overbye não parecia “moralmente defensável” para Magnus von Horn.

"Há algo psicopático sobre Dagmar que não podemos ignorar", afirma o diretor. "Se o filme fosse totalmente centrado nela, o público estaria sempre a uma certa distância."

Por isso, A Garota da Agulha encerra sua história com um momento de otimismo para Karoline.

“Não faria sentido se Karoline não encontrasse uma forma de transformar esse ciclo de opressão e violência em algo positivo”, explica von Horn. “Ela continua luta

A Garota da Agulha:  Está disponível para transmissão no Apple TV+

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