Um detalhe oculto no diálogo de Bella Baxter resume perfeitamente sua jornada de crescimento e descoberta pessoal ao longo de Poor Things.
O filme “Pobres Criaturas” foi aclamado pelo público devido à notável transformação de Bella Baxter como personagem, e um pequeno detalhe captura perfeitamente sua jornada. Baseado no livro de Alasdair
Gray, "Pobres Criaturas", o filme segue Bella Baxter, uma jovem cujo cérebro é reanimado com o de um feto pelo excêntrico cientista Godwin Baxter. Embora a idade de Bella Baxter mude ao longo de "Pobres
Criaturas”, ela essencialmente se encontra em um corpo adulto e precisa aprender a navegar pelo mundo pela primeira vez. Ela descobre toda a alegria, confusão e tristeza que acompanham a vida e, por meio
dessas experiências, também começa a descobrir sua própria identidade.
No início do filme, a identidade de Bella está totalmente ligada aos personagens de “Pobres Criaturas” – especificamente aos homens – em sua vida. Seu mundo é influenciado primeiro por Godwin, depois pelo
aluno de Godwin, Max McCandles, e posteriormente por Duncan Wedderburn, com quem ela foge. À medida que sua jornada avança, Bella começa a desenvolver sua própria identidade além do que foi imposto a
ela por esses homens. Quanto mais ela explora, mais capaz se torna de se afirmar, mesmo quando outros personagens tentam tirar sua autonomia. Esse crescimento é inteligentemente refletido em um aspecto
crucial da personagem de Bella – sua linguagem.
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Bella aprendendo pronomes pessoais por último destaca brilhantemente sua jornada para a independência
No início, Bella se expressa por meio de frases curtas e rudimentares, sem fazer uso de pronomes pessoais. À medida que seu vocabulário se expande, sua identidade também se fortalece. Quando Duncan chega e
Bella decide acompanhá-lo em sua jornada, ela já começou a incorporar mais linguagem pessoal em seu discurso. Embora suas palavras ainda revelem sua origem afetada, ela insiste que, se não for permitido que
ela embarque nessa aventura, “as entranhas de Bella ficarão podres de ódio”. Este momento marca a primeira vez que o público testemunha Bella defendendo suas necessidades emocionais, representando um
marco significativo em seu desenvolvimento pessoal.
Ao chegar a Lisboa, “Pobres Criaturas” transita do preto e branco para o colorido, uma mudança visual simbólica que também se reflete no vocabulário de Bella. É aqui que Bella começa a se descobrir, e sua
linguagem sofre uma transformação visível. À medida que seu mundo se expande para além da casa de Godwin, Bella é apresentada a novas pessoas e experiências, e seu vocabulário se desenvolve em resposta.
Quando chega a Paris, ela já domina o uso de pronomes pessoais. Ela não se refere mais a si mesma apenas como “Bella, criação de Godwin”, mas como “eu” e “eu mesma”. Essa mudança na linguagem evidencia
como Bella começou a se enxergar como uma pessoa independente e a abraçar sua autonomia.
A linguagem desempenha um grande papel no desenvolvimento do caráter dos pobres
A forma como Bella se comunica também influencia a percepção dos outros personagens sobre ela. Duncan reclama do quanto Bella tem lido e de como ela perdeu seu “adorável jeito de falar”. Ele vê esse
crescimento como um inconveniente, pois a expressão da autonomia por parte de Bella torna mais difícil para Duncan objetificá-la e controlá-la. Por outro lado, Godwin elogia como as cartas de Bella para casa
permitiram que ele visse como ela “criou-se destemidamente” durante suas viagens. A linguagem dos outros personagens também evolui ao longo do filme, refletindo a própria jornada de Bella. O vocabulário de
Max se torna mais refinado enquanto estuda com Godwin, e o de Duncan se torna menos polido à medida que ele perde a sanidade.
“Pobres Criaturas” centra-se em temas de identidade e autonomia, por isso é natural que a comunicação desempenhe um papel crucial na história. Bella só conseguirá alcançar independência total quando puder
defender a si mesma e estiver cercada por pessoas dispostas a ouvi-la. No desfecho de “Pobres Criaturas”, Bella assume o controle da propriedade de Godwin com seus parceiros Max e Toinette e realiza seu sonho
de se tornar médica. Além disso, ela realiza seu primeiro experimento em “Pobres Criaturas”, transplantando o cérebro do opressor e misógino Alfie Blessington e privando-o de sua autonomia, refletindo a
maneira como ele tentou silenciá-la.
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